O coração de Jack saltou uma batida. Ele pestanejou, tentando perceber o que estava a ver. “Isto só pode ser um engano”, sussurrou ele. “Não é suposto ela estar aqui.” No entanto, a vista do cockpit era inconfundível.
Ele semicerrou os olhos, concentrando-se no rosto dela. Aqueles familiares olhos castanhos quentes, os mesmos pelos quais ele se apaixonou. Mas algo parecia estranho. Não, não podia ser. Ele olhou de novo. E mais uma vez. IMPOSSÍVEL! Queria gritar-lhe, mas as palavras ficaram-lhe presas na garganta. As suas mãos tremiam ligeiramente sobre os comandos. Tudo o que podia fazer era olhar em silêncio atónito.
A mente de Jack estava cheia de perguntas. Será que é mesmo ela, ou estou só a imaginar coisas? Talvez eu só queira tanto que ela esteja aqui que começo a vê-la, ele pensou. Mas, por outro lado, e se for mesmo ela? Isso implicaria… Ele lutou contra uma súbita onda de emoção, recusando-se a acreditar no impossível. No entanto, o que Jack não imaginava era que aquele vôo estava prestes a revelar um segredo, um segredo que poderia mudar tudo o que ele pensava saber.
Enquanto os passageiros embarcavam no avião, ele deu por si a olhar para ela da janela do cockpit. Não conseguia deixar de estudar os seus familiares olhos castanhos, os contornos do seu rosto e as suas mãos delicadas – mãos que outrora seguraram as suas em momentos de amor. Parecia impossível. Durante quase dez minutos, ele continuou a olhar de relance para a mulher, mas ela nunca reparou. Completamente absorvida no seu livro, parecia alheia à azáfama dos preparativos do voo. Entretanto, o mundo de Jack tinha-se virado de pernas para o ar.
A sua mente estava a rodopiar. Só podia ser a mulher dele! Mas como é que podia ser ela? E se era ela, porque é que estava sentada neste avião, aparentemente sem se aperceber da sua presença no cockpit? Ele tinha a certeza de que estava a olhar para ela, mas tinha igualmente a certeza de que ela não podia estar ali. A sua mente começou a correr – poderia ela ter enganado toda a gente, até mesmo ele?
Poucos minutos antes, Jack sentia-se positivo. Tinha-se preparado para o voo de hoje, o seu primeiro depois de alguns tempos difíceis. Estar de volta à cabina de pilotagem era uma boa distração, ajudando-o a concentrar-se em algo que não fosse os seus problemas.
O seu papel de piloto, a rotina que oferecia e as interacções com os passageiros tinham-no ajudado a encontrar consolo depois das dificuldades que enfrentara no último ano. Antes de embarcar no avião, respirou fundo e forçou um sorriso. Convenceu-se de que, se continuasse a fingir felicidade, acabaria por começar a acreditar nela.